quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um Livro entre nós


O que há hoje para ler?

E o ideal seria, aquilo que perseguimos, que esta fosse uma pergunta habitual, frequente, recorrente, tal como se indaga sobre o cardápio para o almoço ou para o jantar; não só nas nossas escolas como também no interior das casas, no seio das famílias, dos convívios e das associações.

Que ler seja quotidiano como um hábito, natural como uma necessidade, vital como um anseio premente. E isso acontecerá apenas através do manuseamento, da frequência e da desmistificação. É certo que as escolas têm que multiplicar-se na condução à leitura como uma porta aberta para todo o currículo e como um meio de diversão; as famílias terão de educar com a presença usual do livro e a sociedade terá de abrir espaço para que a palavra escrita caiba eficaz e continuadamente dentro das suas práticas.

Ao abordar um plano por vezes esquecemo-nos de tracejar os limites do que se há-de inserir dentro dele e por vezes este descuido custa-nos o granjear adeptos. No caso da leitura convém aceitar um universo bem vasto das coisas que se escrevem, o que não significa necessariamente descurar a qualidade; apenas ser mais ecléticos nas escolhas, menos rígidos nos conteúdos, nas temáticas e nas proveniências.

Porque ler é, primeiro que tudo, aprender a receber a mensagem, a reagir a ela e (ainda que mudamente) a comunicar. Aprender a estar bem aberto para um universo muito, muito vasto, que é sempre humano, no entanto, e donde navegam experiências, dimensões, sentimentos e ideias – ideias sobre as coisas, das quais é possível participar.

Porque infelizmente, é possível ler e ficar de fora, ainda que não seja esta uma eficaz leitura.

Porque, pelo menos no início, há que escutar o que o ser de cada um anseia para o conciliar com a leitura, para o viciar nela.

E o resto, sim: será um mundo que se abre, sem fronteiras nem limites. Um mundo que trará os clássicos mas também os recentes, os inovadores, os que se escrevem dentro de casa e os que se evadem dentro da alma, a criar um gosto, uma sensibilidade e um conhecimento.

É verdade que também não nos iniciamos na comida apenas ingerindo as criações de grandes chefes (talvez o nosso paladar ainda não reconhecesse a sua inegável qualidade e acabaríamos por nos enjoar com elas) nem se aproxima um recém-nascido da música senão através de sons muito simples e facilmente reconhecíveis dentro do universo que lhe é atraente e familiar: assim mesmo levaremos as pessoas à leitura – utilizando o fio da sua identificação e da sua preferência – a infalível teia humana do reconhecimento.

Madalena San-Bento

Sem comentários:

Enviar um comentário