Quem esteve envolvido na primeira edição do Concurso Regional de Leitura não mais afirmará que os adolescentes e os jovens não leem; quem espreitou os sorrisos de empenho, o luminoso ar de responsabilidade assumida, a espontaneidade com que consomem a vida nos bastidores, a leveza que trazem nas suas expetativas, a entrega total a mais um momento… quem assistiu, teve uma grande e profunda surpresa:
Porque muitos dos jovens não só leem como arrastam a leitura para o seu universo povoado e urgente; penetram nela com todas as armas da sua crença quase intocada e mergulham nas frases e nas entrelinhas. Apropriam-se das personagens e regateiam diálogos, invocam as suas próprias experiências e discutem a vida à luz do sentimento.
Muitos dos jovens escrevem e falam sobre estas experiências de leitura, de uma forma tão próxima do modo como sabem viver, que as vivificam, as tornam reais e humanas, as dotam de sentido.
Muitos apalparam as frases, a música e o ritmo do texto, muitos fizeram com ele uma canção, uma dança consonante com os seus movimentos, muitos entenderam a diversidade em culturas estranhas e nunca estranharam a humanidade eterna destas outras lonjuras.
E todos eles, sem exceção, estiveram presentes na totalidade do seu compromisso, entregaram-se à magia de uma comunicação que faz pontes entre autores, leitores, interrogações e partilhas. Todos enveredaram com uma seriedade tocante pela senda que conduz ao fascínio das letras.
Estes existem, movem-se no quotidiano, ficam mesmo ao nosso lado, às vezes sem que lhes demos o verdadeiro crédito. Estão à espera de serem aconchegados em pedaços de literatura envolvente, prontos para contagiar outros, inquietos por se prenderem num encantamento.
E entretanto, desde agora, tornaram-se o outro polo de uma liana que nos completa num universo absolutamente necessário, porque trata da comunicação entre a espécie, algo tão essencial ao homem quanto a sua própria natureza.
Sendo assim, o que nos cabe?
Acreditar cada vez mais, embrenharmo-nos num torneio em que eles poderão sempre participar, mostrando-lhes que não falamos numa linguagem estrangeira, que os teremos sempre em conta e respeitando o ritmo da sua curiosidade, da sua sede de palavras entendíveis, que caminharemos ao compasso do seu deslumbramento.
Esperamos do fundo do coração ouvir estas e outras, muitas mais vozes, aquilo que têm a dizer acerca do universo literário, e só ganharemos se o fizermos com disponibilidade, atentamente.
Foi uma surpresa, portanto, aquilo que nos trouxeram, mas também a certeza de que este percurso que os atrai pela beleza, que os forma pelo contato, que os incorpora pelo exercer da competência leitora, é necessário e ainda está incompleto.
Muito, muito gratos, por agora, felicitamos os que vieram e quiseram compartilhar os seus diálogos connosco.
Madalena San-Bento
crónica publicada em PRL Presente, Açoriano Oriental, 30 de maio de 2013