O vencedor do concurso escolar Mascote do Plano Regional de Leitura, o aluno André Barbosa Custódio, escreveu o seguinte texto sobre o Papa Livros, mascote do PRL.
O André frequenta atualmente o 5.º ano na Escola Básica Integrada de Lagoa e continua a gostar de ler e escrever.
Era uma vez um planeta distante perdido na imensidão do Universo. Este planeta chamava-se Analfabetus. Todos os seus habitantes tinham uma coisa em comum, apesar de reconhecerem que lhes fazia mesmo muita falta, não sabiam ler nem escrever. Sabiam ser solidários, sabiam cantar, sabiam contar anedotas como ninguém e levavam uma vida feliz e despreocupada.
No entanto, existia um dos seus habitantes que não se contentava em ser feliz, em rir disparatadamente com as piadas dos outros… queria mais da vida. Queria conhecer outros planetas, aprender os seus costumes e descobrir o que significavam os códigos secretos que já ouvira chamar de letras, palavras, frases e textos.
Chamava-se Papa Livros, porque comia livros. Mas agora estava farto disso… já não queria comer livros, preferia entretanto descobrir o que diziam aqueles símbolos estranhos todos alinhadinhos nas folhas.
Um certo dia, o Papa Livros lembrou-se de construir uma nave espacial, daquelas mais potentes do que o carro do Cristiano Ronalivros, um dos craques futebolísticos daquele planeta. Bem, não foi bem ele que construiu a nave, foi mais o seu pai do que ele.
A construção da enorme nave demorou uma semana, cerca de 3 horas de trabalho por dia mas, passada essa semana, chegaram finalmente ao seu objetivo: a construção da nave espacial.
O pai do Papa Livros não descobrira ainda o que queria o Papa Livros fazer com a nave e, depois de construída, perguntou então ao pequeno extraterrestre:
- Afinal filho, para que queres então a nave espacial?
– Para viajar para um planeta chamado… ahm… Terra, aparentemente o único planeta com vida. – respondeu o Papa Livros, consultando o mapa do sistema solar mais próximo dali.
O pai já ia responder quando já o Papa Livros estava a dirigir-se para casa, para preparar as malas e depois, despedir-se dos pais.
Preparou-as e, depois de despedir-se dos pais, foi para a sua nave.
– Descolagem em 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1… DESCOLAR! – disse o comunicador da nave.
E lá foi o Papa-Livros, a uma velocidade sobrenatural.
A viagem demorou 24 horas, visto que o planeta se encontrava longe da Terra.
O Papa Livros tinha fome e disse ‘‘fish’’ para um recetor de ordens que a nave possuía, que fazia tudo o que lhe mandassem.
A máquina ficou baralhada e soltou guinchos dizendo em voz robótica:
– Ficher! Ficher! Ficher! Ficher! Ficher! – Guinchou ela, indo a uma velocidade tremenda.
O som da nave a aterrar ecoou em todas as salas e ‘’blocos’’ da escola, até mesmo no ginásio, mas ninguém deu importância àquele som.
O Papa Livros sabia que não estava num restaurante de peixe, por isso, pôs-se a explorar aquilo.
Foi a todos os ‘’blocos’’ (A, B, C, D e E) e, por coincidência, todos os auxiliares que estavam em cada ‘’bloco’’ desmaiaram quando o viram.
Depois de por os auxiliares KO, dirigiu-se ao Pavilhão Central.
Os auxiliares do Bar e da Papelaria também desmaiaram e o pior para o Papa Livros aconteceu na biblioteca.
Ele entrou na biblioteca e, em vez de a auxiliar de lá desmaiar como todos os outros(as), pegou num livro que tinha à mão e atirou ao Papa Livros. Como se não bastasse, o livro acertou em cheio na cabeça do Papa Livros, fazendo-o andar a roda e desmaiar: virou-se o feitiço contra o feiticeiro (ele fez os auxiliares desmaiar, depois desmaiou ele).
Quando o Papa Livros acordou, estava rodeado de pessoas na biblioteca.
– Quem são vocês? – interrogou ele.
Todos ficaram espantados. Um extraterrestre a falar a língua portuguesa.
– Tu… tu… tu… tu falas? – disse a senhora Marivone, vice presidente do Conselho Executivo.
– Sim, falo. Porquê, algum problema? – disse o Papa Livros com ar desconfiado.
– Não, só acho estranho um ET falar. – respondeu a senhora Marivone.
Todas as pessoas ficaram sem saber o que fazer com o Papa Livros, por isso, chamaram o professor Eduíno, presidente do Conselho Executivo.
Papa Livros – O extraterrestre – Parte 2
Quando o professor Eduíno chegou à biblioteca, deparou-se com aquela criatura e, por incrível que pareça, a sua reação até foi boa.
– Eu acho que conheço-te de algum lado. – disse o presidente do Conselho Executivo, com uma voz doce e carinhosa.
– Lamento mas nunca vim a este planeta. Nunca nos vimos, mas o meu nome é Papa Livros. – respondeu.
– Papas o quê? Aqui na biblioteca não papamos livros, apenas os lemos. Se queres papar, papa no refeitório. – contrariou o professor Eduíno. A propósito, hoje a comida é batatas fritas com hamburger, vais gostar!
– Mas eu não tenho dinheiro para pagar a comida. – respondeu o Papa Livros.
– Não te preocupes que pagamos-te a comida para hoje. – declarou o professor Eduíno.
Dito isto, foram comprar a senha do Papa Livros para depois darem um passeio pela escola.
Depois de comprada a senha, o Papa Livros foi dar então o passeio com o professor Eduíno, onde contou de onde tinha vindo e os motivos que o levaram a fazer a longa viagem.
Estava na hora do intervalo para os professores e alunos e o André, aluno do 5ºG, vindo da sala E28, dirigia-se para a entrada da sala A5, quando viu o professor Eduíno a sair do Pavilhão Central acompanhado por uma pequena e estranha criatura. Olhou também para o Bar e para perto dele e reparou que as pessoas que lá se encontravam estavam boquiabertas.
Dirigiu-se então ao Papa Livros e disse-lhe:
– Eu acho que te conheço de algum lado.
– Pois, eu também disse o mesmo quando o vi. – acrescentou o professor Eduíno.
– Estranho. Por acaso não te chamas Papa Livros? – perguntou o André ao pequeno extraterrestre.
– Sim. Como sabes? – retorquiu o Papa Livros.
– Sei porque fui eu que te desenhei. – disse o André.
– Peço desculpa, mas não foste tu que me desenhaste! Foram os meus pais que me desenharam. – respondeu muito surpreso, o Papa Livros.
– Aí é que te enganas. Cada pensamento que os seres humanos têm, ultrapassa uma barreira dimensional ou seja, eu “criei-te” cá e tu nasceste lá, no planeta Analfabetus. Mas não te preocupes que não és meu filho, és filho do teu pai e da tua mãe. – disse o André com uma expressão sorridente. E digo-te mais, no futuro, serás alguém e até já começaste esse percurso. – finalizou com um ar misterioso.
– Como assim já comecei? – interrogou o Papa Livros curioso.
– Ah pois! Esqueci-me de te contar. És a mascote do Plano Regional de Leitura! – respondeu o André.
– E o que faço? Para que sirvo? – perguntou entusiasmado o Papa Livros.
– Serves para dar o exemplo aos meninos de Portugal que ler é muito importante. E para além disso apareces em capas de muitos livros, revistas e até na internet. – replicou o André.
– Internet? E o que é...
– Chega de perguntas. Se queres saber o que é a internet, dá o bom exemplo e lê os livros. – interrompeu o André.
– Mas, André, eu não sei ler nem escrever. – disse ele, com um ar triste.
– Não te preocupes, Papa Livros. Eu vou autorizar a tua matrícula aqui nesta escola. – interveio o professor Eduíno, tentando animar o Papa Livros.
E assim foi. O professor Eduíno matriculou o Papa Livros na escola.
O Papa Livros estava ansioso por começar a aprender a ler, escrever e muito mais. Mas o mais engraçado era que o Papa Livros conseguia aprender uma matéria por dia, fosse ela qual fosse, sem ter que estudá-la para a memorizar. Ele tinha um “chip” na sua memória e o que lá entrava já não mais saía, excepto o que o Papa Livros mandasse esquecer.
Assim, não foi preciso mais do que uma semana para o Papa Livros aprender a ler e a escrever.
Certo dia, estava o Papa Livros a sair das aulas, rumo à sua nova casa, a biblioteca, quando, vindos de helicópteros, apareceram uns quantos jornalistas. Esses jornalistas começaram a tirar fotos ao Papa Livros enquanto diziam que ele iria aparecer em todos os livros recomendados pelo Plano Regional de Leitura. Mas não pensem que foi fácil! Primeiro o Papa Livros teve de ler esses livros todos para depois dizer se achava ou não que devia aparecer lá (ele só aparecia se o livro fosse interessante para as crianças).
E foi assim que o Papa Livros deu a sua primeira entrevista à imprensa, numa bonita cerimónia que se realizou na biblioteca da EB 2,3 Padre João José do Amaral. Agora devem se estar a perguntar se o André foi convidado para assistir à entrevista. Claro que foi, por ser criador do Papa Livros e por ser também um menino que adora ler e escrever.
Tornaram-se grandes amigos e não vivem um sem o outro. O André diz que ler é uma maneira de viajarmos, sem ter de pagar bilhete, enquanto o Papa Livros acha que é a melhor forma de “papar” os livros sem os destruir.
Ler é bom! E sem leitura, não teriam conhecido esta aventura.